I
Estava andando sem rumo, não tinha objetivo, porém muitos sonhos que jamais poderiam se realizar. Tinha minha vida, meus amigos, meu trabalho, uma história, mas faltava algo e eu sabia que precisava desses algo, não sei por que, mas me fazia muita falta.
Sentia-me incompleto, olhava as coisas e tentava entender e quando quase chegava a uma conclusão desistia. Sempre assim, sempre...
Certo dia decidir parar de vez, largar tudo para buscar o sentido, o sentido que me deixava tão aflito, que tirava meu sono e me fazia ficar com uma inquietude terrível. Então abandonei tudo que construí e fui-me embora com apenas um despertador, um travesseiro e um lençol que logo iriam se perder.
Deixei tudo só para descobrir o sentido de viver e observar as pessoas, suas ações, seus conceitos, dentre outras atitudes.
Parti...
II
Parti para meu inconsciente, entrei em sono profundo, tentei ver todo o mundo que havia dentro de mim, todas as lembranças, todos os sentimentos, meus gestos e minhas ações, pois descobrir que para entender o que há exteriormente é preciso entender o interior.
A primeira coisa que encontrei foi uma caverna escura, sem nenhum vestígio de vida, fiquei horrorizado com minha voz ecoando sem respostas, não havia luz, “nem aquela do fim do túnel para quebrar o galho”, era simples mente um nada sem absolutamente nada, pelo menos foi minha primeira impressão porque quando fui mais afundo percebi um fluxo de sangue. “Meu Deus! Estou em meu coração.”
É. Realmente é meu coração. Mas ele não estava completamente vazio. Lembra daquela luz no fim do túnel? Ela existe. Só que estava fraca como uma vela sem chamas suficiente para se alto aquecer.
Fui mais a fundo e vi que em um determinado ponto eu tive que parar e voltar, pois estava fechado até para mim mesmo então voltei de meu coração sem descobrir o que havia de errado. “Como pode meu coração que é meu não querer que eu o descubra? Não dá pra entender.” Fui adiante...
Encontrei no meio do caminho uma pedra, que engraçado, dentro de mim havia pedras. Cheguei até a um lugar que só tinha pedras, só pedras e mais pedra e por mais que eu ás tirasse do caminho aparecia mais e mais, que loucura... Repentinamente surgiu uma nuvem carregada de pedras. Choveu pedras, algumas chegaram até a me machucar. Eu comecei a correr feito um louco sem saber para onde ir estava com muito medo e estava correndo de minha própria consciência que por sinal estava muito pesada.
Estou quase desistindo de continuar: Meu coração está vazio, minha consciência está pesada, daqui a pouco...
É.! Eu continuei...
III
Passei horas e horas sem descansar por conta do barulho que tinha num beco que me meti, e quanto mais me distanciava de minha consciência mais esse barulho aumentava. Chegou a ficar ensurdecedor, não conseguia ouvir a mim mesmo, era uma agonia terrível, meu corpo tremia, eu fazia muita força para correr e não conseguia sequer tirar o pé do lugar, mas depois de muito tempo cheguei ao fim daquele beco horroroso, não precisei pensar muito para descobrir por onde estava passando: Era por minha mente. Pois é, que lugarzinho mais feio, sujo e barulhento, já não agüentava mais passar um segundo socado naquele lugar.
Minha cabeça deve ser muito grande, ainda não conseguir sair dela, cheguei até a um ponto bem engraçado que eram meus olhos. Como sempre fechados, cegos para o futuro, tinha até uma salinha que só passava filmes em preto e branco, e quando não era isso se passava imagens de tudo aquilo que não... É melhor nem comentar.
Mas tudo bem conseguir pegar um elevador próximo à garganta e fui parar num lugar bem esquisito. Uma casa!
Tinha apenas dois cômodos: uma sala com lareira e um quarto com apenas uma cama e um candeeiro no canto da parede. A sala era de estar por sinal e a lareira estava apagada e empoeirada, com alguns galhos úmidos, pois fazia muito frio naquele local, o sofá parecia que não sentava ninguém há anos, o chão não estava varrido e engraçado não tinha móveis. A sala se resumia a uma lareira, dois sofás e uma mesinha, que era onde ficava uma caixinha de fósforo. Já o quarto estava até, em relação à sala, bem apresentável, o chão não estava varrido, mas havia pegadas em direção à cama, que já não era tão confortável, estava a ponto de se desmontar, mas ainda sim era mais ou menos. Não sei como uma pessoa teria coragem passar a noite num lugar daquele, e o candeeiro coitado! Acabava-se em ferrugem. Eu mesmo fiquei comovido com toda aquela situação e decidi limpar a casa.
Varri, espanei, lavei... Mas quando acendi a lareira a mágica aconteceu.
As paredes pareciam novas, os móveis apareceram, o sofá! Ficou novo, o chão era de taco e a mesinha de marfim. E o quarto que de uma hora para outra... A cama novinha com um belo lençol de ceda, o candeeiro brilhava como o nascer do sol, a te cantos de pássaros ouvi, e quando abri a janela que havia aparecido: Um belo jardim com um enorme bosque suave, me apareceu então um céu limpo e nuvens tão brancas quanto algodão. As flores riam de tanta felicidade, felicidade essa que me contagiou, chorei feito um menino, pois não sabia o que tinha acontecido e quando menos esperava ouvi um batido na porta, surpreso pensei: “Quem mais poderia estar dentro de mim e não a mim mesmo?” Fui atender.
Quando abri a porta uma luz imensa invadiu a porta, mas foi com tanta força que eu caí no chão, e o máximo que conseguir ficar foi de joelhos. Naquela hora senti uma mão em minha cabeça e uma voz que dizia: “Quanto tempo esperei por ti, meu filho, tu não sabes o quanto eu te amo, por que demoras-te tanto?”.
Na hora que eu ouvi isso meu corpo começou a tremer, minhas mãos começaram a suar, e continuei calado. Ele voltou a falar: “Vi que você decidiu limpar minha casa, a cama onde eu dormia, realmente estava precisando de um reparozinho, e há quanto tempo não sentia esse calor aqui dentro, esse cheiro gostoso de vida, que maravilha, sabia que você um dia viria me visitar, viu o jardim? Preparei para você, é lindo não é?”.
Eu já em prantos pedi desculpas por ter esquecido do verdadeiro sentido da vida, minhas palavras inseguras acompanhadas de soluços e lágrimas, ele sem me deixar explicar me interrompeu: “Meu filho não chore nem se lamente, pois o passado serviu para sua aprendizagem, sabes agora o que seguir. Venha temos muito que conversas. Dê-me sua mão e sente-se aqui que eu vou preparar um chá.”.
IV
Encontrei-me com Deus dentro de mim, quem diria, mas é verdade, basta você acender a luz de seu coração, direcionar a sua mente a um objetivo maior, abrir seus olhos e fazer o possível para que sua consciência não pese a ponto de te machucar. E aquele lugar que eu estive por ultimo era minha vida. Estranho todos esperavam algum órgão, mas o que seria dos órgãos sem vida? Pois é minha vida estada fria, suja e sem Deus, mas quando decidi muda-la tudo ao seu redor mudou também, foi quando percebi que minha vida já não era minha, porém estava em boas mãos.
– Deus sabe o que faz...
...E o despertador tocou.